segunda-feira, 12 de julho de 2010

Criminalidade violenta: a ponta do iceberg?

* Texto escrito por mim e publicado na seção "Opinião" do periódico Gazeta de Alagoas, em 21.04.2010.

Alagoas, campeã brasileira da violência. Está na boca do povo. Tudo documentado pelos constantes – e bastante em voga - “rankings” da criminalidade - essa novidade tão mórbida quanto paradoxal: como se não bastante mensurar vidas humanas em números frios, agora é preciso “competir” pelo posto de local mais seguro. Os sentimentos de indignação e impotência crescem vertiginosamente no seio da sociedade alagoana. Soluções e fórmulas mágicas surgem por todos os lados: da “Lei Seca” à pena de morte; da prisão perpétua à redução da maioridade penal. É a velha e reconfortante fantasia de que todos os grandes problemas que assolam o País podem ser resolvidos apenas com uma canetada.

A expansão da criminalidade violenta não é um fenômeno exclusivo da sociedade alagoana. Trata-se de um problema complexo e de alcance global. O que subsiste é um acirramento grave em ambientes sociais, como o nosso, já carentes de quase tudo e que se ligam, historicamente, a práticas e valores igualmente violentos e autoritários.

Das incivilidades do dia a dia, dos crimes de mando por motivos banais, dos privilégios extraoficiais assegurados aos mais abastados. Quanto sangue inocente e quantas lágrimas já foram derramados, perdidos no silêncio e no anonimato em nossa história! Por outro lado, não há desrazão em se indignar pelo número absurdo de homicídios cometidos, pela violência sofrida em um assalto, pelo dano causado em furto, pela insegurança generalizada que campeia em nossos dias.

O sangue do passado não justifica o sangue do presente, por óbvio. Mas convida à reflexão de que, de uma forma ou de outra, estamos todos implicados nesse grande projeto de vida coletiva que chamamos de “sociedade”. Não do ponto de vista das “causas”, mas na perspectiva de que é preciso mais do que clamar por políticas recrudescedoras ou por uma atuação mais enérgica dos governos para dar conta do grave problema de segurança pública que hoje vivenciamos.

A crise securitária é apenas o sintoma mais forte e visível de uma sociedade – e não apenas de um Estado - há muito doente e necessitando de cuidados urgentes. E quem procura tratar ferozmente o sintoma sem descobrir ou tratar a doença - como é o caso de propostas recrudescedoras como, por exemplo, a “pena de morte” e a “redução da maioridade penal” - certamente permanecerá cada vez mais doente.

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