terça-feira, 13 de julho de 2010

A ilusão é após

Texto assinado por Pequeno Gaspar e publicado no jornal 'Voz Acadêmica' do mês de junho de 2009. Publicação do Centro Acadêmico Affonso Pena, da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Não obstante a dificuldade de enfrentar o curso de graduação feito praticamente por correspondência, há alunos que gostam do Direito, da Faculdade, que admiram o ofício dos poucos Professores Doutores que cumprem com suas obrigações docentes, e que sonham em ingressar no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito da UFMG.

O caminho não é fácil. É preciso muita disciplina para conjugar programas de iniciação científica, de monitoria, grupos de estudos, pesquisa e extensão, cargos de representação discente, estágio, cursos de idiomas, produção de artigos científicos, elaboração da monografia, exame da OAB, com a obrigação que tem o aluno da Federal de ser autodidata e estudar quase todo o conteúdo programático da graduação sozinho. Mas muitos alunos conseguem. E, após 5 anos estudando com pouca ou nenhuma orientação, alcançam o sonho de se dedicarem apenas à área do Direito pela qual têm maior interesse e afinidade.

A ilusão é de que, na Pós, as aulas terão qualidade, porque lá só estão os alunos mais aplicados, que querem realmente estudar, e que, portanto, os professores se sentem mais estimulados a compartilhar todo o conhecimento acumulado ao longo de uma vida inteira; a ilusão é de que, na Pós, o aluno terá a tranqüilidade de se debruçar sobre suas pesquisas e projetos, sem ter que se preocupar com mais nada a não ser sua carreira acadêmica; a ilusão é de que, na Pós, o menor número de alunos proporcionará maior facilidade de diálogo entre estes e a coordenação, e de que esta, por sua vez, trabalha pelos alunos, que são meio e fim do Programa de Pós-graduação e de sua produção cientifica; a ilusão é de que, na Pós, haja cooperação e boa vontade, para, quem sabe, um dia, alcançarmos um conceito 6 ou (por que não?) 7 na avaliação trienal da CAPES; a ilusão... a ilusão é a Pós.

O que se vê na Pós é o mesmo descaso e a mesma falta de respeito por que todos os alunos dessa Vetusta Casa (pobre Affonso Penna deve se revirar no túmulo se de lá puder tomar conhecimento do que se passa em sua Casa) passaram na graduação. São barreiras burocráticas criadas especial e minuciosamente para impedir que o Programa evolua, que os alunos progridam, que avanços sejam alcançados. São as vaidades de professores e seus problemáticos
relacionamentos interpessoais tendo prioridade sobre o tão venerado interesse comum, envolvendo os alunos numa guerra sem fim, separando-os em “lados” e já criando os professores que liderarão a guerra e colocarão seus orientandos uns contra os outros daqui a 30 anos.

Neste semestre foi o processo de seleção de bolsistas – que poderia facilmente ter sido tema de um filme de terror barato, tamanha sua bestialidade – o protagonista das (corriqueiras) demonstrações de ilegalidade e imoralidade que têm lugar nos corredores e salas do Edifício Vilas-Boas.

No próximo semestre, sem sombra de dúvida, outro escândalo surgirá. O gosto pelo constante embate de forças naquele Edifício parece ser maior que o gosto pelo conhecimento, pela academia, pelo Direito, por uma vida justa e tranqüila. E, a esta altura, é inevitável a pergunta: vale a pena lutar tanto para ingressar na Pós-graduação e encontrar os fantasmas que se caçou por 5 anos, se lá os fantasmas se solidificam e se transformam em espinhosos obstáculos à formação, à tranqüilidade e à vida dos alunos?

Pitaco (relâmpago) do blogueiro: Um título ainda ilude muita gente mesmo. E a realidade descrita, infelizmente, não se restringe apenas ao Programa de Pós-Graduação em Direito da UFMG. Brasil afora, deparamo-nos com situações ainda mais escabrosas. É só fuçar um pouquinho.

Um comentário:

Bricio Cruz disse...

O grande pró é que ainda que mais gente estivesse disposta a tirar o problema debaixo do tapete, ainda assim o caminho é para tào poucos que haveria pouco interesse em resolver essas questões. Pequenas vitórias podem nos iludir nessa vida/seita acadêmica.